CANTAR DE AMIGO
À beira do rio fui dançar... Dançando
Me estava entretendo,
Muito a sós comigo,
Quando na outra margem, como se escondendo
Para que eu não visse que me estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes
Certo se alegravam
De me ver dançar,
Fui largando as roupas que me embaraçavam,
Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes,
Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei... que logo
Que vi meu amigo
Por entre os salgueiros,
Melhor eu dançava, já não só comigo,
Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.
Que Deus me perdoe, que aos seus olhos tristes
Assim ofertava
Minha formosura!
Se não fora o rio que nos separava,
Cruel com nós ambos, olhos que me vistes,
Nem eu me mostrara tão de mim segura...
(José Régio - Música Ligeira)
Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
-- o meu amigo está longe
e a distância é bastante.
Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!
-- o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.
Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
-- o meu amigo está longe
e a saudade é bastante.
(Ary dos Santos - Resumo in Obra Poética)
minha mãe, e gostei eu deles
e de mim, também.
Fui à fonte as tranças lavar,
e das tranças pus-me eu a gostar
e de mim, também.
Lá na fonte, antes que eu partisse,
gostei tanto do que ele me disse
e de mim, também.
(Natália Correia - Cantares dos Trovadores)
Se sabeis novas do meu amigo
novas dizei-me que vou morrendo
por meu amigo que me levaram
num carro negro de madrugada
Dizei-me novas do meu amigo
em sua torre tecendo os dias
dai-me palavras, pra lhe mandar
com ruas brisa domingos sol
Se sabeis novas de meu amigo
novas dizei-me que desespero
por meu amigo que longe espera
tecendo os dias tecendo a esperança
Mando recados não sei se chegam
leva-me o vento da noite triste
ou diz-me novas de meu amigo
que tece o tempo na torre negra
Que tece o tempo que tece a esperança
já da ternura fiz uma corda
ó vento prende-a na torre negra
que meu amigo por ela desça
Por essa corda feita de lágrimas
que meu amigo por ela desça
mande a esperança que vai tecendo
que eu desespero sem meu amigo
(Manuel Alegre - Praça da Canção)
Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
-- mãe, dou-lho ou não?
Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
-- mãe, dou-lho ou não?
Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
-- mãe, dou-lho ou não?
(Eugénio de Andrade - Poesia e Prosa)
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